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Não existe apenas um Grantmaking no Brasil

Por Pamela Dietrich Ribeiro , coordenadora de programas no GIFE e integrante do comitê coordenador do Movimento por uma Cultura de Doação.


Tornar o grantmaking a principal estratégia do investimento social privado (ISP) brasileiro é minha principal missão hoje no GIFE, além de um desejo pessoal. Venho há muitos anos acompanhando os números e a atuação de fundações, institutos e empresas comprometidos com a filantropia e estou cada vez mais convicta de que não podemos tratar todo o ISP brasileiro como uma coisa só.


No geral, vejo um amadurecimento do grantmaking nos últimos 10 anos. Os dados do Censo GIFE, principal pesquisa nacional sobre investimento social privado e filantropia, olha para a evolução do repasse de recursos financeiros feito por investidores sociais e atores da filantropia sob duas perspectivas: o volume de doações e o perfil de investidor social de acordo com seu tipo de atuação.


Em relação ao volume de doações, observamos uma oscilação na proporção de recursos alocados em iniciativas de terceiros em relação ao total do ISP ao longo dos últimos 10 anos. Após o pico observado em 2020, ano pandêmico, em que chegamos a 47% de recursos repassados a terceiros, voltamos em 2022 (37%) ao patamar de 2018 (35%), mas superior a 2014 (25%), mostrando um avanço significativo no grantmaking.


Quanto ao tipo de atuação, os dados do Censo GIFE mostram um investimento social privado cada vez mais financiador de iniciativas de terceiros, ainda que de forma bem gradual. Enquanto o perfil mais financiador representava em 2014 38% do total de respondentes, em 2022 esse percentual cresceu para 43%. Se seguir nessa tendência, em alguns anos ele terá ultrapassado o perfil mais executor de iniciativas próprias.


Mas quando olhamos para os dados recortados por perfil de investidor social, vemos que existem diferenças significativas nas estratégias e na forma como fazem grantmaking. O perfil mais financiador, segundo a pesquisa, é o de empresas, que em 2022 correspondia a 66% dos respondentes neste segmento e 83% dos investimentos sociais totais destinados ao apoio a terceiros. Porém, a série histórica da pesquisa mostra uma volatilidade nesse volume de recursos destinados à doação ao longo dos anos, o que torna difícil afirmar que existe uma cultura de grantmaking enraizada no perfil empresas. 


Os institutos e fundações empresariais têm um perfil mais executor de suas próprias iniciativas. Segundo os dados do Censo GIFE, somente 34% dos respondentes destinaram recursos a terceiros e apenas 17% dos investimentos sociais totais deste grupo foram doados. A execução de iniciativas próprias é uma característica bem marcante deste perfil de ISP e se mantém estável ao longo dos anos. E de fato, é difícil encontrar bons exemplos de institutos e fundações empresariais grantmakers.


Já os institutos e fundações familiares me dão um pouco de esperança. Segundo o Censo GIFE de 2022, predomina entre eles os mais financiadores (52%). Ainda que não seja a grande maioria, a série histórica da pesquisa mostra que estão cada vez mais doadores. Em 2014, apenas 5% dos investimentos totais deste perfil eram destinados a terceiros. Essa proporção foi crescendo ao longo dos anos, chegando a 35% em 2022. Esse movimento é influenciado pelo crescente surgimento de novos institutos e fundações familiares no Brasil que já nascem doadores e que vêm pautando uma nova abordagem para o grantmaking. São eles, por exemplo, que junto com o perfil de independentes, mais fazem apoio institucional a organizações da sociedade civil, estratégia fundamental mas ainda pouco difundida entre o ISP brasileiro.


Para quem atua na incidência de um investimento social privado mais doador, é fundamental entender as diferenças que existem entre os distintos perfis de organizações do campo e desenhar estratégias específicas para cada um deles. Enquanto as empresas parecem ter uma tendência maior a doação, além de concentrarem um grande volume do ISP, elas se mostram muito voláteis em suas estratégias. Portanto, o principal desafio aqui é estabilidade e consistência. Já os institutos e fundações empresariais têm uma nítida preferência pela execução de projetos próprios e também concentram uma parcela significativa de volume do ISP. Então, o desafio neste perfil é de mudança de estratégia, talvez o maior de todos.


Por fim, os institutos e fundações familiares parecem ter uma crescente prevalência pela doação, mas representam um perfil ainda pouco significativo na amostra do Censo GIFE, tanto em número de organizações quanto em volume de ISP. Portanto, a barreira aqui é fomentar e fortalecer a filantropia familiar. Precisamos de mais pessoas e famílias doando. Essa é minha principal aposta para um ISP mais grantmaker no Brasil.



 

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