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Sorriso no rosto, coração quentinho: coletânea sobre doar, parte 2.

  • culturadedoar
  • 24 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

Por Joana Ribeiro Mortari, diretora da Acorde Desenvolvimento Humano, cofundadora da Philó | Práticas Filantrópicas, responsável pela Proximate Brasil, cocriadora e membro do comitê coordenador do Movimento por uma Cultura de Doação.




"A ideia de que o brasileiro não doa mais por falta de incentivo fiscal é um argumento fácil, porém não verdadeiro. Além de não estarmos nem perto de usar o volume total possível de impostos direcionados pelas diferentes leis de incentivo fiscal já existentes (...), nosso primeiro instinto parece continuar sendo o de comparar as doações brasileiras com as americanas, o que precisamos urgentemente parar de fazer". 


Em abril de 2023 escrevi sobre a importância de diferenciarmos doações de direcionamento de imposto: a primeira é a transferência voluntária de bens privados, a segunda é o exercício do direito de decidir onde o governo deve alocar uma parte do imposto que uma empresa ou indivíduo já tem a obrigação de pagar. No mesmo artigo eu emendo uma ideia nova, a de que devemos parar de comparar as doações brasileiras com as americanas. Interessantemente, estou neste momento escrevendo e ampliando a reflexão sobre o assunto, então aguardem! E antes de passarmos para o próximo artigo, fica aqui um alerta sobre a importância de iniciativas e campanhas que tornem o direcionamento de impostos mais conhecidos entre empresas e cidadãos brasileiros. 


Em junho do ano passado, a escrita partiu da escuta do primeiro episódio do podcast "O que será de nós?", uma realização da Comunidade de Aprendizagem do Instituto ACP em parceria com a Plataforma Conjunta, que abre espaço merecido para as vozes das lideranças que participaram da sua comunidade de aprendizagem. Há alguns anos as organizações do campo promotor da filantropia brasileira advogam por mais doações (grantmaking) e falam da qualidade desta doação: irrestritos, para o desenvolvimento institucional das OSC*. 


Também vale dizer que quando este advocacy por mais grantmaking começou, há pouco mais de uma década, a ideia de fortalecimento das organizações da sociedade civil era diferente do que é hoje. Fortalecer tinha mais uma conotação de "ensinar a fazer certo", o que desde então evolui para processos menos top-down, como dizem os gringos, e abertos a trocas e aprendizados mútuos, valorizando o saber das pessoas e organização com experiência prática no endereçamento dos problemas sociais que enfrentam. Está, portanto, caminhando para a ideia de trocas de saberes. E o podcast é um dos resultados desta mudança, trazendo à tona reflexões e dores de quem trabalha diariamente neste endereçamento, e assim invertendo a lógica de construção de conhecimento do campo, o que também tem sido feito pela Iniciativa PIPA , pela Rede Comuá e, mais recentemente, ganhado um canal de mídia exclusiva no edição brasileira da Proximate.Press


E vamos finalizar esta segunda parte do Coletâneas sobre Doar com o artigo de julho de 2023, "Doar em tempos de coerência". "A filantropia do mundo grego-romano era sobre a educação da mente, corpo e espírito dos cidadãos, sobre participação política e espírito público, sobre honra, prestígio, fama, status e reputação. Era sobre o desenvolvimento do caráter do doador, sobre manter a ordem social. Acima de tudo, era sobre o doador, não o receptor de recursos". 


Na semana passada eu fui em um evento de um grande banco internacional sobre filantropia familiar e conto para vocês, sem medo de errar, que muito do que eu observei não mudou desde a Grécia antiga. Saí um pouco aflita, um pouco desiludida, e um pouco mais humilde. A verdade é que eu conheço a dificuldade que é trazer a própria família para um pensamento mais doador, socialmente consciente e responsável. Talvez eu tenha escolhido conversar com todo um campo filantrópico antes de enfrentar este desafio. O exercício de olharmos com afeto e compreensão para a realidade do outro no campo da transformação social tem que ser mútuo, e não é um caminho fácil tendo em vista os séculos de exploração que nos trouxeram até aqui, mas faz parte da busca por coerência. Um olhar compreensivo não significa aceitação passiva, a transformação é necessária e está acontecendo. E como ela é um processo, sempre tem alguém no começo da jornada.

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* A história da formação do campo filantrópico brasileiro que está muito bem contada no primeiro capítulo do livro da Jessie Sklair, "Brazilian Elites and Their Philanthropy: Wealth at the Service of Development", lançado em 2022, nos tráz maior clareza do porquê os grandes doadores não são particularmente adeptos à prática do grantmaking no Brasil.


 
 
 

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Produzido pela equipe do Movimento por uma Cultura de Doação 2024

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