Por Georgia Nicolau, fundadora e diretora no Instituto Procomum, além de pesquisadora, entusiasta e facilitadora de processos coletivos para transformação social também é integrante do Movimento por uma Cultura de Doação.
Meu primeiro contato com o termo inovação cidadã aconteceu com a leitura dos documentos colaborativos produzidos pela Secretaria Geral Ibero-Americana (SEGIB) que foram entregues aos chefes de estado na Cúpula Ibero-Americana do Panamá, em 2013. Depois estes documentos resultaram em outras cartas e resoluções sobre laboratórios cidadãos e recomendações sobre políticas públicas. Em um dos documentos encontramos a seguinte definição de laboratórios cidadãos:
Os laboratórios cidadãos são espaços nos quais pessoas com diferentes conhecimentos e diferentes graus de especialização se reúnem para desenvolver projetos conjuntos. São espaços que exploram as formas de experimentação e de aprendizagem colaborativa, que surgiram a partir das redes digitais para promover processos de inovação cidadã. Sob o ponto de vista do processo de IC, estes projetos trabalhados e criados em laboratórios cidadãos têm a característica de procurar uma transformação social que contribua para o desenvolvimento cultural, social e econômico dos nossos países. (Carta aos Chefes de Estado Ibero-Americanos, SEGIB, autoria coletiva, 2014 p. 4)
Como costuma dizer meu parceiro de trabalho e cofundador junto comigo do Instituto Procomum (IP), Rodrigo Savazoni: “um laboratório cidadão é uma rede de pessoas, iniciativas e infraestruturas, articuladas para a produção de bens comuns, em um determinado território”.
Desde que passei a acompanhar mais de perto as discussões do Movimento por uma Cultura de Doação, e também a integrar a Rede Comuá, rede que reúne fundos e organizações filantrópicas que atuam por justiça social, tenho pensado muito na relação entre Lab Cidadão e uma cultura de doação.
Desde 2017, o Instituto Procomum mantém um lab cidadão na cidade de Santos, município do estado de São Paulo. O Lab Procomum, é um espaço de 1200 m2 com biblioteca multimídia, residência artística, makerspace, hackerspace, quintal, horta, cozinha comunitária, espaços de trabalho compartilhado… É, acima de tudo, um lugar para se conhecer pessoas e realizar projetos de impacto social, inspirar e se inspirar, exercer criatividade, cidadania, produzir conhecimento livre e compartilhado. Muita coisa acontece no Lab Procomum todos os dias, em uma programação e governança que é partilhada pelos mais de 30 grupos de trabalho e comunidades que ali frequentam. Por conta do Lab Procomum conheci pessoas que não teria outro lugar para conhecer. Afinal, onde você faz amigos? Na escola, na Igreja, na universidade e em espaços de convivência como o Lab Procomum.
Em setembro, como parte do Mês da Filantropia que Transforma, promovido pela Rede Comuá, realizamos um seminário de filantropia comunitária no Lab. O galpão multiuso estava cheio, foram mais de 60 lideranças sociais da região da Baixada Santista e do litoral norte que estiveram presentes. Pessoas que doam. Pessoas que recebem. Pessoas que constroem comunidades, que pertencem a comunidades. Insatisfeitas. Criativas. Inconformadas. Mão na massa. Mas alguma coisa me tomou o peito naquele dia. A cultura de doação ali era abundante. Mas a grana não!
Desde então venho refletindo. Laboratórios cidadãos são espaços de formação de comunidade. Em outros léxicos, um amigo que trabalha numa filantropia internacional me disse que lá eles chamam isso de capital social. Um capital que a democracia não pode prescindir. O básico do básico. Podem ser quilombos, aldeias, bairros, bibliotecas comunitárias, associações, casa da avó, centros culturais. Espaços de convivência, experimentação, inovação comunitária e cidadã. Espaços que fortaleçam os vínculos comunitários fortalecem uma cultura de doação. Parece óbvio, e é.
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