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Filantropia na era da Web3


Foto: Resultados Digitais

Por Patricia Cavalcanti Lobaccaro, fundadora e CEO da Mobilize Global e integrante do Movimento por Uma Cultura de Doação


Publicado originalmente no Vozes do MCD




Recentemente participei da SXSW, a maior conferência de inovação do mundo, em Austin, no Texas, uma oportunidade de aprender, trocar, reciclar o repertório, e principalmente entender como o universo de transformações tecnológicas impactam a filantropia. Entre palestras e ativações com temas sobre metaverso, web3, criptomoedas, NFTs, inteligência artificial, um termo ouvido em todos os cantos me chamou atenção: DAO.


A sigla DAO significa Decentralized Autonomus Organization, ou Organização Autônoma Descentralizada. A DAO é uma organização regida por códigos e programas de computador, tendo a capacidade de funcionar de forma autônoma e sem hierarquia. Os membros de uma DAO não estão vinculados a nenhum contrato formal, são unidos por um objetivo comum. Resumidamente, as DAOs fornecem um sistema operacional para colaboração.

A descrição pareceu familiar? Sim! Me lembrou os coletivos. Os conceitos aqui não são novos, apenas sendo sistematizados por meio do blockchain.


E de que forma isso impacta a cultura de doação? Muito já vem sendo discutido pelo setor filantrópico sobre formas mais horizontais e participativas de se fazer a filantropia, com processos de decisão compartilhados, onde a relação entre financiadores e comunidades financiadas migram de um modelo paternalista de comando e controle para um modelo de confiança e respeito aos saberes locais, e com prioridades identificadas pelas próprias comunidades apoiadas. Essa discussão, que já vinha ocorrendo, mas com poucos exemplos práticos, agora volta a reaquecer por conta dos DAOs, que colocam o conceito de governança compartilhada como regra, e não exceção.


Muitas iniciativas filantrópicas estão surgindo ao redor do mundo seguindo esse modelo e trago aqui alguns:


  • ENDAOMENT – uma fundação comunitária criada para incentivar a filantropia feita com criptomoedas, conectando investidores e organizações sem fins lucrativos, com todas as transações feitas em criptomoedas e registradas em blockchain.


  • Big Green DAO – com o slogan “rompendo com as hierarquias da filantropia”, cria um modelo no qual as decisões sobre a distribuição dos recursos são feitas em conjunto por doadores e organizações que já foram financiadas.


  • Giveth – é uma plataforma de doação, no estilo Vaquinha, onde qualquer um pode criar uma campanha e qualquer pessoa pode doar. O sistema não cobra nenhuma taxa administrativa e as doações, feitas em criptomoedas, são transferidas diretamente do doador para a causa beneficiada, via blockchain.


  • Impact Market – “protocolo de alívio da pobreza descentralizado”, com foco no conceito da renda básica. O aplicativo conecta beneficiários cadastrados por meio de entidade comunitária parceira, a doadores e lojas que vendem seus produtos aceitando a moeda solidária do sistema. Esse já tem inclusive projetos no Brasil.


Estudei, por muito tempo, o sistema de gestão caórdico – a intersecção da ordem e do caos. Com ordem (controle) demais, não há inovação. Sem ordem (processos) nada funciona. Qual o ponto de equilíbrio? Acredito que muitas inovações serão feitas no campo das doações usando as tecnologias da Web3. Nem todas vão funcionar. As disrupções tecnológicas, no mínimo, irão acelerar a transição para modelos mais participativos e transparentes para a filantropia.


Um ponto a considerar: acesso à internet e acesso à educação para a tecnologia. Como as organizações de base irão acessar doações em criptomoedas? Por enquanto, somente as grandes ONGs têm estruturas para aceitar esse tipo de doação.

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