Por Beatriz Bouskela, do Arredondar, e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação
Dezembro já chegou, trazendo com ele o balanço do ano que passou. É um período que carrega expectativas de transformações e a busca por novos hábitos: praticar mais esportes, aprender uma nova língua, cuidar das relações e reduzir o tempo nas redes sociais. E em meio a tantas metas e intenções, como podemos cultivar e estimular a solidariedade como um hábito em 2025?
O recém lançado estudo da Fundação José Luiz Egydio Setúbal evidencia como a prática de doação ainda está longe de ser algo do nosso dia a dia. Dos 28% dos brasileiros que declararam ter feito uma doação monetária para uma organização em 2023, apenas 37% mantêm contribuições recorrentes. Como podemos mudar esse cenário?
Construindo o hábito de doação no Brasil
Para apoiar na reflexão de como trazer o hábito de doar para o dia a dia dos brasileiros, podemos recorrer a diversas teorias comportamentais. Para essa reflexão recorro ao clássico O Poder do Hábito, de Charles Duhigg, que apresenta os mecanismos que moldam nossos comportamentos e como podemos ajustá-los para criar práticas mais duradouras.
Segundo o autor, o hábito se baseia em três etapas: gatilho, rotina e recompensa. O gatilho é o que desperta a ação, a rotina é o comportamento em si, e a recompensa é o benefício que nos motiva a repetir o ciclo.
O gatilho
O gatilho, ou a deixa, é o que inspira a execução de determinada rotina. Se bem posicionado, aciona uma resposta emocional e cognitiva imediata. Os gatilhos devem ser relevantes e perceptíveis, podendo ser visuais, contextuais, emocionais. E ligá-los a outros hábitos já formados pode ser uma importante estratégia de consolidação.
No Arredondar, por exemplo, optamos por conectar o gatilho ao contexto das compras, vinculando a ação de doar a uma rotina já consolidada e um ambiente familiar para os consumidores e colaboradores. O objetivo é naturalizar o convite, de forma a naturalizar a doação dentro desse ciclo.
Hábitos associados a um contexto específico, como uma hora do dia, local ou evento tendem a ser mais fáceis de adotar. Esse tipo de ação pode gerar uma redução do esforço cognitivo, facilitando a repetição.
Eventos como desastres, período natalino e eventos religiosos têm se mostrado gatilhos poderosos para inspirar a doação. Ampliar esses contextos e integrá-los a outras situações do dia a dia pode contribuir para transformar a doação em um hábito mais constante, facilitando sua repetição e naturalização na vida das pessoas.
A rotina
Para que o hábito seja formado e a rotina exercida, o autor indica que a ação deve ser o mais simples, automática e contínua possível, especialmente quando ainda não temos essa prática estabelecida. E a repetição é um elemento essencial. Quanto mais vezes uma ação for realizada, maior a chance dela se consolidar como parte do nosso comportamento.
Nesse sentido, criar métodos de pagamento descomplicados e recorrentes, minimizar barreiras de adesão e ampliar a acessibilidade podem ser importantes estratégias para tornar a doação parte do cotidiano das pessoas.
A recompensa
A recompensa é o benefício percebido que reforça o hábito. Pode ser uma sensação física, emocional, social ou mesmo cognitiva. Quando nos conectamos com a sensação positiva, reforçamos a nossa conexão e nos sentimos mais motivados a continuar.
Ouvir o relato de uma família que recebeu apoio, experienciar uma apresentação musical financiada pela doação, compartilhar um momento coletivo de reconhecimento e celebração podem fazer toda a diferença em uma jornada de doação. Esse vínculo é essencial para sustentar o hábito, pois você não apenas doa, mas se sente parte da transformação.
Além disso, a transparência das organizações é um elemento-chave. Ela dá ao doador a certeza de que sua ajuda está sendo bem utilizada, reforçando a confiança e o desejo de manter o engajamento.
Como podemos inspirar e nutrir novos hábitos de doação em 2025?
E nessa transição de ano, fica a proposta para essa reflexão: como podemos, individualmente, aprimorar nossos hábitos de doação? E mais do que isso, como conseguimos, juntos, criar novos contextos, facilitar a ação e inspirar doadores com recompensas cada vez mais potentes?
A solidariedade não precisa ser algo grandioso ou complicado. Pequenas ações repetidas podem criar grandes mudanças. Que 2025 seja marcado por muitas transformações.
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