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Carta de Amor ao Doar

Por Joana Ribeiro Mortari, diretora da Acorde Desenvolvimento Humano, fundadora da Philó | Práticas Filantrópicas e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação.



Semana passada eu li uma carta de amor à filantropia e me deu uma vontade enorme de escrever a minha. Claro que a minha é a você, Doar. 


Eu me lembro bem do dia em que me dei conta que você era interessante para mim. Estava observando a interação entre uma gestora da Associação Acorde, há mais de 10 anos, e uma voluntária que estava por lá quando senti um nó. Por que esta subserviência, me perguntei. A  dor me acompanha até hoje, mas muita água já passou embaixo da ponte. Agora parece que o mundo todo está falando sobre ela, questionando a perversa dinâmica de poder entre quem tem algo a oferecer e quem quer este algo.


Foi assim que comecei a me interessar por você… movida por esta dor, este incômodo. Comecei a tentar entender o que te prende, o que te liberta. E como fui pensando em voz alta, fui notando que as pessoas estavam se conectando aos questionamentos, aos incômodos, a você. Foi como se você estivesse se manifestando através de mim. No caminho fui me dando conta que ninguém sabe muito quem você é. Que ao mesmo tempo você tem até definição legal, ela é extremamente reduzida em sentido. Mas poderosa! É ela quem regula as trocas financeiras em seu nome e é por meio dela que as pessoas te reconhecem, a ponto de você ser difamado quando algo que não te pertence é feito em seu nome. 


Também têm as diferentes formas de te praticar, cada uma com seu apelido. Ainda assim, com definição legal e vários subtítulos, te sinto como um rio caudaloso, represado. Um potencial imenso de fluxo, preso e causando enchente, dor e até sofrimento ao mesmo tempo que poderia estar fluindo em direção a outro lugar, oxigenando e gerando vida.

 

O que te represa? Uma ótima pergunta que muitos já tentaram responder. Eu acredito que seja a falta de mais pessoas saberem de você, do seu verdadeiro potencial, se aproximarem de você ao invés de acharem que você não é pra elas, é pra outra pessoa mais rica, mais velha... Também acho que as pessoas precisam abaixar a guarda, terem menos medo de errar. Claro que as coisas erradas feitas em seu nome não ajudam… Mas o que também tenho me dado conta é que a estrutura que te carrega (a gente chama ela de campo filantrópico) te ajuda a crescer ao mesmo tempo que te prende. Pensa assim: uma jabuticaba vai ser sempre jabuticaba, a forma, a cor, o sabor da jabuticaba é o que faz com que a gente a reconheça, mas também é o que a mantém igual - o que no caso da jabuticaba é um alívio! Mas você, doar, a gente sabe que existe mas não vê, não sente gosto ou ouve, você vem sem forma e, portanto, sua forma e seu sentido se dá através de nós, homo sapiens sapiens (eu adoro este nome.. Humano que sabe e sabe que sabe… ainda que, no seu caso, não sapiens tanto assim).


Acontece que quando este campo se forma e te dá forma, ele também te prende nesta forma ao dizer para o mundo o que é certo e o que é errado fazer em seu nome. O que eu quero, com esta carta, é te pedir desculpas. Em minha defesa, é difícil enxergar que ao tentar te fortalecer, talvez o tal campo ao qual eu pertenço também esteja te enrijecendo, te prendendo e reduzindo em sentido. Você merece mais fluidez, mais liberdade, mais autenticidade. Merece ser reconhecido pela força conectora, pela força transformadora, pela força libertadora que tem. 


Ao longo dos últimos muitos anos, tenho tentado encontrar e nomear estes lugares que te aprisionam e faço isso com amor. 

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