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Vamos parar de esperar a tragédia para doar!

  • culturadedoar
  • há 21 minutos
  • 3 min de leitura

Por Phelipe Sales, captador de recursos, liderança nacional do Dia de Doar e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação.


Imagem gerada por I.A.
Imagem gerada por I.A.

Nos últimos anos, tenho percebido algo que me incomoda como captador de recursos e, principalmente, como brasileiro: a nossa generosidade é enorme… mas ainda não se transforma, na mesma intensidade, em doação estruturada e contínua. A gente abraça,ajuda, compartilha um pix na emergência, faz campanha quando a tragédia bate à porta. Mas quando o caos passa, a doação vai embora junto. É como se o impulso fosse gigante, mas o hábito ainda estivesse em construção.


E aí entra um ponto que o Monitor das Doações deixou claro: estamos registrando menos doações. Isso significa que as pessoas pararam de doar? Ou será que estamos falando menos sobre isso, registrando menos, contando menos histórias de quem doa e de quem recebe? Essa pergunta mexe comigo, porque toca exatamente na ponte que eu mais acredito: doação não é só transação financeira, é narrativa. É pertencimento. É cultura.


O Brasil sabe presentear—isso está na nossa raiz. A gente leva um doce quando visita alguém, prepara um almoço especial, chega com um mimo simples só pra dizer “pensei em você”. Mas, de algum jeito, ainda não internalizamos que doar para uma causa também é um presente. Um presente pra sociedade. Um presente pra nós mesmos.


E essa desconexão explica outra coisa: nossa cultura de doação ainda é frágil. Não por falta de generosidade, mas por falta de estrutura, incentivo e confiança e isso não sou eu que falo, mas uma das expressões que saiu na última: Pesquisa Doação Brasil. Muita gente quer doar, mas não sabe como. Outros têm medo de fazer errado, de cair num golpe, de não ver impacto. E, no fundo, o que falta é a gente transformar boa intenção em prática cotidiana — não só no susto.


É por isso que movimentos como o Dia de Doar fazem tanto sentido pra mim. Eles cutucam o país inteiro ao mesmo tempo, provocam conversa, lembram que doação não é luxo, é participação. E mais: mostram que doar não é sobre resolver o mundo — é sobre estar no mundo de forma mais consciente.


Se tem algo que aprendi caminhando entre projetos, territórios e histórias é que a mudança real não acontece no anúncio bonito, mas nas micro ações repetidas, na consistência, na comunidade que se reconhece e decide agir junto.


No fundo, este é o nosso maior desafio: transformar gesto pontual em cultura permanente. Deixar de esperar a tragédia para doar. Normalizar o cuidado. Celebrar quem sustenta projetos o ano inteiro. Contar a história de quem doa e de quem recebe. E assumir que generosidade também é responsabilidade.


Eu sigo acreditando — e vejo isso na prática — que o Brasil tem um potencial gigantesco para virar referência global em cultura de doação. A semente está plantada. A generosidade existe. Falta só regar, repetir, conversar mais sobre isso, apesar que isso no terceiro setor é o que mais se fala ultimamente - doação e diversificação delas. Precisamos sair da nossa bolha e alcançar novos setores.


E talvez a nossa missão agora seja bem simples: fazer barulho. Contar nossas histórias. Puxar a conversa. Convidar mais gente. Porque quando a doação vira tema, ela vira hábito. E quando vira hábito, vira cultura.


E cultura, ah… cultura transforma.


E eu continuo aqui, acreditando — teimoso mesmo — que estamos só no começo. Quer apostar?

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Produzido pela equipe do Movimento por uma Cultura de Doação 2024

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