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A filantropia e o futuro das grandes fortunas

  • culturadedoar
  • 19 de mar.
  • 3 min de leitura

Por Joanna Sultanum Calazans, gerente de filantropia da Aldeias Infantis SOS e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação


Imagem: Freepix
Imagem: Freepix

Nas próximas décadas, presenciaremos a maior transferência de patrimônio da história. Apenas nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 30 trilhões de dólares passarão das mãos da geração baby boomer para seus herdeiros. Esse gigantesco volume de recursos é resultado de diversos fatores, incluindo a valorização do mercado de capitais, o aumento da desigualdade (e, consequentemente, da concentração de renda) e políticas tributárias que favoreceram o acúmulo exponencial de riqueza.


De acordo com o Billionaires Ambitions Report 2024, do banco UBS, entre 2015 e 2024, a riqueza global dos bilionários cresceu 121%. Outro estudo do mesmo banco revelou que, pela primeira vez na história, novos bilionários acumularam mais riqueza por meio de heranças (cerca de 150 bilhões de dólares) do que pelo próprio trabalho (um pouco menos de 141 bilhões). Em muitos casos, tornar-se bilionário foi uma mera questão de sorte. Mas e se essa "sorte" pudesse ser convertida em um impacto verdadeiramente transformador?


O relatório Desigualdade S/A, da Oxfam, publicado em Davos no início de 2025, revelou que a riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo dobrou desde 2020, enquanto 5 bilhões de pessoas viram sua renda diminuir no mesmo período. Enquanto o número de bilionários cresce, a quantidade de pessoas vivendo na pobreza permanece estagnada desde a década de 1990. Diante desse cenário, destinar parte do patrimônio para causas sociais se apresenta como uma grande oportunidade de reverter essa trajetória histórica de desigualdade.


Um novo caminho para a filantropia


Alguns movimentos globais têm incentivado a redistribuição de riqueza de forma significativa. O The Giving Pledge, por exemplo, estimula bilionários a doarem pelo menos 50% de seu patrimônio para causas e organizações sociais. Outro exemplo é o Millionaires for Humanity, grupo de milionários que defendem a taxação sobre grandes fortunas, com nomes como Marlene Engelhorn (herdeira dos fundadores da BASF) e Abigail Disney. Embora ainda sejam poucos os super-ricos que aderem a compromissos como esses, a existência dessas plataformas abre caminho para que novas gerações sigam esse exemplo.


No Brasil, o número de super ricos publicamente comprometidos com a redistribuição de sua riqueza ainda é pequeno. Dos 69 bilionários na lista da Forbes de 2024, apenas quatro aderiram ao The Giving Pledge até hoje: Susan e Elie Horn, David Vélez e Mariel Reyes. O casal Horn também é um dos principais financiadores do Movimento Bem Maior, iniciativa voltada para o fortalecimento da filantropia no país. Embora outros indivíduos tenham seus próprios institutos, projetos e fundações, o volume de recursos investidos em causas sociais ainda está muito aquém do potencial desse grupo.


A decisão sobre o legado


Em um mundo de desigualdades crescentes, o destino da riqueza acumulada ao longo da vida vai além da herança: trata-se de uma escolha sobre o tipo de legado que se deseja deixar para as futuras gerações. Converter riqueza em bolsas de estudo, iniciativas comunitárias, formação profissional para jovens e desenvolvimento infantil pode transformar a realidade de milhões de pessoas que, mensalmente, vivem com menos do que um indivíduo de alta renda gasta em uma única hora.


Nesse contexto, direcionar parte de uma fortuna para o bem comum não é apenas um ato de generosidade, mas também uma estratégia poderosa para reduzir desigualdades e construir uma sociedade mais justa. Que essa grande transferência de riqueza que está em curso seja uma oportunidade única para a nova geração de bilionários promover uma verdadeira revolução social.

 
 
 

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Produzido pela equipe do Movimento por uma Cultura de Doação 2024

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