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Três Desejos para uma Cultura de Doação

  • culturadedoar
  • há 6 dias
  • 4 min de leitura

Heloísa Garcia da Mota, profissional executiva dse comunicação, engajamento e mobilização de recurso, líder de Captação de Recursos na Climate Ventures e integrante do Movimento para uma Cultura de Doação


Foto de Volodymyr Hryshchenko na Unsplash
Foto de Volodymyr Hryshchenko na Unsplash

A voz dessa semana que inicia a 9 Temporada do Vozes é de Heloísa Garcia da Mota que lidera a Captação de Recursos na Climate Ventures e integra o Movimento para uma Cultura de Doação.


Em seu ciclo de planejamento 2025, o Movimento pela Cultura de Doação nos convidou a responder a seguinte pergunta, logo de chegada: Qual seu desejo para a cultura de doação no Brasil?  A despeito da ausência de uma lâmpada e um gênio, elaborei três desejos, enquanto escutava uma gama de profissionais inspiradores trazendo sua experiência e suas expectativas para o futuro da doação no Brasil. 


Estávamos todos alinhados. Diversidade, pesquisas, comunicação, histórias, reconhecimento, reputação, influência em políticas públicas, aproximação do campo beneficiado,  a chegada e a compreensão sobre o cenário da doação nos rincões do país. Um Brasil com orgulho de ser doador e doando muito mais, com todo seu potencial. Ainda inspirada, quis falar sobre meus três desejos para inaugurar a nona temporada do Vozes, e quem sabe provocar mais gente a refletir e contar sobre suas próprias visões. 


Meu primeiro desejo é o da ousadia. O filósofo nigeriano Bayo Akomolafe, que destrincha em seu trabalho a necessidade da decolonialização da filantropia (introduzindo o conceito de parafilantropia), pede para que o campo se afaste de respostas pré-formuladas e tenha ambição de criar um ambiente de discussão que estruture de fato a possibilidade de mudanças emancipatórias. Não é o bastante olhar para a governança, a inclusão e a diversidade sem questionar os mecanismos que mantém a tensão colonialista do fluxo de capital filantrópico. Esta provocação de Bayo é também combustível para o artigo do criador do Presencing Institute e Teoria U, Otto Scharmer, sobre Filantropia 4.0, onde ele reitera que as formas tradicionais de doações já não dão mais conta dos problemas complexos e sistêmicos que precisamos enfrentar. Em seu artigo, Otto propõe o uso de mudanças transformativas de processos que focam na raíz do problema , como o caso da Lankelly Chase Foundation, que deu às comunidades afetadas o mandato para direcionar recursos conforme suas necessidades. Trata-se de uma filantropia com maiores desafios de mensuração de impacto e indicadores, com entregas e resultados em prazos mais longos, porém com soluções mais adequadas e ambiciosas às complexidades que enfrentamos, por exemplo, com a atual crise climática. 


O segundo desejo é o da visão estratégica. Usando de liberdade poética para repensar a metodologia do iceberg da cultura organizacional, sempre penso que a doação/ financiamento é a ponta do iceberg de uma organização capaz de consolidar uma visão baseada em propósito, habilidade para comunicá-lo com clareza e assertividade em forma de visão, realização e implementação de projetos que reforçam e corroboram sua visão e, finalmente, engajamento do ecossistema de atores necessários para que o propósito se cumpra. Há quem doe tempo, há quem doe conhecimento, há quem doe recursos financeiros.  A doação é uma consequência de um trabalho estratégico bem feito, bem implementado e profissionalizado, e não apenas do ato de vender bem um produto. 


E por fim, mas não menos importante, eu desejo a escuta para a sua incorporação em campanhas e comunicações eficientes que sejam capazes de mudar a percepção sobre doação,  financiamento e a razão de ser de organizações não governamentais no Brasil, em tempo de disputas narrativas acirradas.  Philip Kotler em sua obra “Marketing 4.0”, aponta que a importância do reconhecimento dos “nós de redes” em comunicações de influência. Ou seja, num mundo de muitas informações compartilhadas, a audiência tende a confiar mais em grupos sociais próximos do que num influenciador distante de sua realidade. De maneira muito similar, Jeremy Heimans e Henry Timms, em  “O Novo Poder”, propõe um sistema de retroalimentação para construção de narrativas que se baseia num olhar estratégico e segmentado para os públicos com os quais uma organização se relaciona, onde a proximidade do público interno, voluntários, parceiros, financiadores é o catalisador para a ampliação de uma ideia. O processo é refinado. Não é suficiente sabe

r em quem você espera que sua mensagem chegue, é necessário pensar em como ela vai chegar, qual o canal e o porta voz que trazem maior confiança e que, potencialmente, inspiram uma mudança de comportamento e reação. Não se trata de falar a língua de quem domina a contra-narrativa, mas de entender como ela ressoa e porque ressoa em quem a ouve e a repete.Tudo isso exige, além de escuta, estrutura, gestão de relacionamento e comunidades e um bocado de desapego. Não vamos contar boas histórias sozinhos, vamos precisar de muita diversidade em nosso barco em alto mar. 


E com estes três desejos, abrimos a nova temporada do Vozes, que irá trazer ao longo dos próximos meses muitas falas,pensamentos, desejos, ambições, desafios e oportunidades para inspirar mais gente a contar suas histórias. 


Por fim, deixo aos que acompanham a newsletter a mesma pergunta que respondi: Quais são seus desejos para a cultura de doação nos próximos anos no Brasil?  E deixo também a proposta real de conexão para que possamos realizá-los juntos. 

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Produzido pela equipe do Movimento por uma Cultura de Doação 2024

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